terça-feira, 24 de maio de 2011

ADOÇÃO É A OPÇÃO DO AMOR: A HISTÓRIA DE ARTHUR



 Por Otávia Mello *

Adoro Cesar Milan. É um homem extremamente coerente, conectado aos cães, uma conexão que eu considero similar aos laços que conectam meu coração com os gatos.

A primeira vez que ele disse essa frase, ficou ecoando em minha mente por dias e ainda hoje a profundidade daquelas palavras ressoa em mim.

"Você pode não ter o animal que quer, mas certamente tem o animal que precisa." Não há premissa mais verdadeira que essa. Cada animal em minha vida surgiu em um momento em que eu precisava aprender algo, que fez de mim um ser humano um pouco melhor.


Ao contrário de tantos outros gatinhos mansos que nasceram em uma casa e depois foram descartados como um pedaço de pano velho, Arthur não soube o que era um teto sobre sua cabeça ao nascer. Ele nasceu nas ruas. Mais especificamente, na rua do meu prédio.

A mãe dele era uma gata preta, com as mesmas marcações brancas que ele possui, que morreu atropelada. E eu só conheci um de seus irmãozinhos, idêntico à mãe.

Antes de ser meu, antes de ser Arthur, ele era uma coisinha braba, suja, desnutrida e com verminoses que ficava perto da lixeira, esperando que um resto de comida caísse na hora do recolhimento de lixo.

A minha mãe foi a primeira pessoa a vê-lo. Apesar da total falta de domesticação, ele soube gritar para ela, desesperado de fome. E ela pediu para a moça que trabalha aqui para levar uns restos de comida. Somente alguns dias depois ela me mostrou o gatinho brabo que morava nos jardins e que já havia sido enxotado por quase todos os porteiros.

Então, eu decidi cuidar dele. Nada demais, só comida e água, afinal, ele nem sequer se aproximava de mim.

No entanto, quanto eu menos percebi, era eu que tentava tocar naquela bolinha de pêlos, sem sucesso. Comprei pratinhos e um saco de ração de supermercado. Demorou quase um mês até que ele deixasse que eu o colocasse nos braços. E naquele momento em que eu toquei aquele filhotinho listrado, meu coração se tornou dele, mesmo que estivéssemos separados por dois andares inteiros.

Por causa dele eu percebi que um dia, por pior que seja, nunca é ruim o bastante para não conseguirmos sorrir com as brincadeirinhas de um gato atrás de uma bola de papel.


Eu soube como uma mãe se sente ao lado de um filho enfermo, quando ficava até altas horas da madrugada ao lado dele, quando ele foi castrado e depois, quando foi atropelado. Me senti extremamente incapaz e impotente de não poder protegê-lo, chorei por não poder dar a ele um lar de verdade e pelo coração duro da minha mãe que não o queria em nosso apartamento.

Me senti com dois metros de altura, aos rugidos e coragem à mostra, quando um vizinho louco jogava pedras nele e eu o enfrentei , sem me importar com as consequências, apenas querendo proteger o MEU filho.

Por causa do Arthur eu me sinto menos só, desde quando ele finalmente veio morar em nossa casa, trazendo para todos um pouco da alegria que ele sempre me proporcionou. Meus pais são - um pouquinho menos - estressados por causa dele.

O Arthur me fez sair do circulo de comodidade do MEU animal BEM-TRATADO e FELIZ dentro da MINHA casa no meu MUNDINHO PERFEITO e olhar para tantos outros abandonados, passando fome e à mercê da crueldade humana. Por causa dele, eu ajudo gatos sofridos, nas mais diversas situações e a outra metade do meu coração se enche de gatinhos de diversas cores, idades e personalidades, todos os dias. 

Todo o dinheiro gasto com coisas fúteis durante o final de semana agora salvam vidas.

Mesmo que eu me ache uma fracassada em alguns aspectos da minha vida, ao olhar para o Arthur e ver toda essa beleza, saúde e alegria, eu me sinto menos inútil.

Mas na verdade, foi ele que me salvou. Só eu, e ele, sabemos o estado do meu coração naquela manhã em que nossos olhares de trocaram quase 5 anos atrás.

E ele continua me salvando, todos os dias. Com ele e por ele, eu tenho a oportunidade de fazer o que eu não fiz por todos os MEUS 8 gatos que vieram antes dele. Por causa do Arthur eu já ajudei vários outros e conheci pessoas fantásticas que, assim como eu, desejam dar aos animais uma vida mais digna. O Arthur já saiu em duas revistas e me motiva a escrever sobre Guarda Responsável e adoção em uma tentativa de educar outros ao meu redor.


E a cada dia eu me apaixono mais. É um amor igual, saudável. Não existem palavras maldosas disfarçadas de brincadeiras. Não existem julgamentos. No meu melhor e no meu pior, quando eu fui operada e fiquei quase 2 meses sem poder sair de casa, quando várias pessoas que eu achava que eram minhas amigas viraram às costas, ele estava ao meu lado. Nas minhas conquistas que passam despercebidas por várias pessoas ao meu redor, nas minhas pequenas alegrias, ele está ao meu lado. E apenas pede que eu o trate com carinho.

Por causa do começo difícil nas ruas, Arthur não é aquele gato que se chega e fica pedindo colo, se esfregando. Mas ele sabe retribuir. Sabe deitar ao meu lado e massagear minha barriga com as patinhas. E vem correndo e miando quando eu chego em casa, dizendo "olá". Se eu permanecer no meu quarto 24hrs do dia, Arthur permanece ao meu lado, apenas mudando de posição e se espreguiçando ocasionalmente.

Arthur significa GUERREIRO em Galês. Por todas as batalhas de sobrevivência que ele travou até chegar em meus braços, apesar de ter sido por acaso, não haveria nome mais apropriado.

Eu tenho o filho que eu preciso. E vou fazer de tudo para sempre ser a mãe que ele merece.

* Otávia Mello escreve no blog http://amoremiados.blogspot.com e que eu recomendo fortemente!

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3 comentários:

  1. MARAVILHOSO e inspirador relato. Obrigada por dividir conosco.

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  2. Muito lindo! Não conhecia o blog da Otávia e agora que descobri, não quero mais parar de lê-lo! Histórias marcantes e que provam o amor verdadeiro pelos bichinhos. Acima de qualquer preconceito ou dificuldades.

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  3. Otávia
    Que bom que existem pessoas como você. Que Deus te ilumine sempre. O Arthur é lindo demais.

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