sábado, 11 de dezembro de 2010

CÃES E EMOÇÕES: FATOS E MITOS


Os cães são animais irracionais e por isso sempre foi considerado que as “emoções secundárias”, sentimentos complexos relacionados com a capacidade de raciocinar, lhes estariam vedadas. Mas há quem pense de outra maneira. Muitos tutores insistem que os seus cães são capazes de sentir culpa e até inveja. E, mais recentemente, investigadores afirmam até que os animais podem ter alma.

INVEJA

Surpreendentemente, os estudos mais recentes indicam para o fato do cão ter um sentido de justiça e ser capaz de reconhecer quando está sendo bem ou mal tratado. Não é mito e tudo aponta para que os cães sejam mesmo capazes de sentir uma forma de discriminação quando são tratados de maneira diferente pelos humanos.

Um estudo colocou dois cães lado a lado com os donos posicionados atrás. Os investigadores pediam ao cão para dar a pata, mas apenas ofereciam recompensa a um deles. Os cães não recompensados começaram a não cumprir a tarefa pedida, dar a pata, e a mostrar sinais de estresse quando o outro cão era recompensado. Quando os investigadores faziam a mesma experiência, mas testando os cães individualmente, os animais continuavam a dar a pata por muito mais tempo. O mesmo acontecia quando um dos cães era recompensado com salsicha e o outro com pão. Os investigadores concluíram assim que a presença de um parceiro é o fator fundamental para a reação do cão e que a qualidade da recompensa era um fator de menor importância para os animais.

Friederike Range, responsável pelo estudo, defende que os cães são capazes de sentir inveja, embora de forma menos sensível do que os humanos ou primatas.

CULPA

Ao contrário do que muitos donos possam pensar, os cães não sentem culpa: é mito.

O sentimento de culpa está fora do alcance do espectro emocional do cão. A grande maioria dos tutores é levada a acreditar que o cão sente culpa, devido ao fato dos cães mostrarem um comportamento submisso quando repreendidos por agirem de forma indesejável. Muitas vezes esta é a reação do cão à atitude do tutor, outras é apenas a antecipação do castigo.


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O etnólogo Frans de Waal relatou no seu livro que uma cadela Husky com o mau hábito de roer jornais era repreendida pela dona sempre que esta chegava a casa e encontrava jornais desfeitos. A Husky assumia uma posição submissa, que era interpretado pela dona como a admissão de culpa. Contudo, se a dona rasgasse os jornais sem a cadela dar por isso, a Husky reagia da mesma forma “culpada”. Segundo o investigador, este caso indica que os cães não são capazes de verdadeiramente sentir culpa, mas sim de antecipar uma atitude de desagrado de um membro da família hierarquicamente superior.

DEPRESSÃO

Não é mito, os cães podem realmente sofrer de depressão. Uma das experiências mais relevantes neste campo foi feita nos anos 60 do século passado na Universidade de Pennsylvania, pelo psicólogo Martin Seligman. Nesta experiência foram formados três grupos de cães. No primeiro grupo, os cães eram apenas presos, no segundo e terceiro os cães eram também submetidos a choques eléctricos. Contudo, os cães do grupo dois podiam terminar os choques carregando num botão. Quando os investigadores deram aos cães do grupo 3 a hipótese de forma fácil fugir do local, os animais sentavam-se ou deitavam-se. A experiência veio mostrar que os cães do grupo três desenvolveram uma espécie de depressão, pois sentiam que os choques eram aleatórios e não havia nada que pudessem fazer para por fim aos mesmos, mesmo quando lhes era dada essa oportunidade.

Contudo, cerca de um terço dos cães do grupo 3 não entraram em depressão e juntamente com os cães do grupo 1 e 2 conseguiram recuperar, apesar das más experiências passadas.

INTERPRETAÇÃO DAS EMOÇÕES HUMANAS

Os humanos lêem uma nova face, vagueando com os olhos primeiro pela zona esquerda da face humana e acabando por se concentrar na metade à direita. Os humanos só exibem este movimento ocular quando confrontados com outras caras humanas, não reagindo da mesma forma com animais ou objectos inanimadas. Para surpresa de muitos, os cães apresentam o mesmo movimento ocular na presença de uma face humana.

Para chegar a esta conclusão, investigadores da Universidade de Lincoln mostraram a 17 cães várias imagens de pessoas, primatas e objetos inanimados e filmaram o olhar dos animais. Os cães são os únicos animais de que se tem conhecimento a exibirem este comportamento, o que levou os investigadores a concluir que os cães são capazes de identificar emoções na face dos humanos.

ALMA

Marc Bekoff, professor na Universidade de Colorado e autor do livro “Wild: Justice: The Moral Lives of Animals” afirma que os animais possuem empatia e compaixão, sentimentos a partir dos quais é construída a moral. O investigador chegou a esta conclusão depois de visionar durante centenas de horas filmagens de coiotes, lobos e cães. Mas Bekoff vai mais longe e diz que os cães têm expectativas e esperança. Segundo ele, os cães distinguem-se dos outros animais pela história em comum que têm com os humanos. “Se os humanos têm alma, os animais também têm alma. Se os humanos têm livre arbítrio, os animais também o têm. Se não podemos saber isto com certeza, ao menos dêmo-lhes o benefício da dúvida”.

Tradução do artigo “Dogs and Emotions: Facts & Myhts”  publicado no site www.vivapets.com

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