quarta-feira, 1 de junho de 2011

O SIGNIFICADO DA PALAVRA GRATIDÃO


Por Ana Suely

Sempre tive adoração por cachorro, especialmente os SRD*.  Há 15 anos atrás eu já tinha um, o Bingo, um cachorrinho que tinha ganho de uma tia. Ele era uma pestinha que fazia xixi em todos os lugares (onde não podia). Estava feliz em já ter que cuidar dele.

Minha filha, à época, tinha uns 10 anos e ao chegar em casa viu na vila um cachorrinho preto, bem magrinho  mas que estava todo serelepe, e pediu para pegar. Eu não queria mais nenhum, pois não tinha casa própria e já tinha sido um sufoco achar um lugar onde pudesse levar o Bingo. Quem vive de aluguel e tem um bicho que ama sabe o que falo.

Dois dias depois ao sair de casa vejo um cachorrinho deitado num jornal (que uma boa alma colocou) com um pote de água. Cheguei perto pra ver e notei que a pata traseira dele estava quebrada e bem roxa. Uma senhora me disse que ele estava com dores, mas ela não poderia ficar com ele e fez o que podia. Cheguei pertinho dele e vi que era ELA. Estava com tantas pulgas e carrapatos que mesmo eu que sou louca por bicho fiquei com medo de colocar no colo. Esqueci prontamente minhas preocupações com futuras mudanças e me enchi de coragem pra enfrentar meu marido com mais essa "loucura". Minha filha ficou radiante e até meu marido se compadeceu do estado da bichinha. Era tão magra que se contava todos os ossos. Meu marido escolheu o nome FININHA pelo estado dela.  Levamos logo numa veterinária que atendia de graça (ainda tem gente do bem) a quem recolhe cachorros de rua. Ela disse que a pata deve ter sido quebrada por alguma pessoa, pois não tinha mais nenhum arranhão no corpo, o que seria normal se tivesse sido atropelada. Depois de cuidarmos dela conforme prescrito pela médica a levamos de volta para que fosse castrada, pois tinha o Bingo e não poderia ficar com mais algum caso quisesse continuar casada! (risos)

Minha Fininha foi crescendo e ficou uma cadela maravilhosa. Era doce demais comigo, meu marido e minha filha, mas com qualquer outra pessoa ela queria avançar. Nunca nem rosnou conosco. Lembro a primeira vez que comprei um ossinho de limpar dentes para ela. Ela correu, sentou na caminha e ficou me olhando como se estivesse perguntando se aquilo tudo que ela vivia era verdade.  Acho que era o trauma do que passou na rua.

O Bingo e ela ficaram super amiguinhos, menos na hora da ração, pois ela comia a dela rápido e ia tentar comer a dele também.

Quando andávamos com ela na rua várias pessoas perguntavam a raça, pois ela tinha um porte lindo.

Faz 3 anos que meu Bingo foi pro céu e ,exatamente  um ano depois a Fininha foi se encontrar com ele. Ela teve um câncer, mas não tinha mais como tratar. No último mês de vida muitas pessoas perguntavam porque eu não sacrificava, pois ela já não andava e fazia todas as necessidades no chão, o que cansava muito pois ela era enorme.  Me questionava: "  se fosse minha irmã ou parente eu sacrificaria?" Claro que não, então porque fazer isso com quem foi minha companheira fiel por tantos anos...



Os últimos momentos dela foram para mim dolorosos, pois tinha a impressão que ela não queria ir para não me deixar sozinha. Seu último olhar e suspiro guardo tão nítido como uma foto. Ela me olhou com aquele mesmo olhar de quando ganhou seu primeiro ossinho.

Nunca esqueço meus dois amores, Bingo e Fininha. Tenho foto deles no quarto até hoje.

A dor diminui, pois agora já tenho um novo SRD que me dá também muito carinho.

Todo mundo deveria pegar um cão de rua e nunca mais esqueceriam o significado da palavra gratidão.

* Sem raça definida.

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4 comentários:

  1. Se uma pessoa passasse por essa experiência de adotar um cão abandonado ela teria a melhor retribuição possível: amor eterno.
    Bom ver gente que faz.

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  2. Amo ler essas histórias. No meio de tanta notícia de crueldade contra animais isso dá um alívio!!

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  3. Me emocionei com o relato. É bom saber que há pessoas assim no mundo, que se preocupam e cuidam dos animais. Eles estão felizes e em um lugar mto bom,e gratos pela vida que tiveram.

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  4. Ninguém consegue entender o que é gratidão até pegar um animal abandonado,com fome,frio e exposto a toda sorte de crueldades...Ele é fiel a quem o salvou por toda a vida e seu olhar, realmente, diz tudo. Esse relato traduziu o que sempre senti por parte dos meus " filhos" fucinhentos. Deus proteja pessoas assim.

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