sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A VOZ DO SILÊNCIO *

Educar é... "extrair aquilo que está dentro"

Verbo originário do latim "educare", educar quer dizer "extrair", "sacar fora". Tal perspectiva está de acordo com a visão de grandes educadores (como Paulo Freire), segundo os quais "ninguém educa ninguém". O que se pode é fornecer elementos - em especial, o exemplo, a força da "imagem" - para que a educação se desenvolva a partir da consciência do próprio educando, fazendo emergir sua "luz interior".

Países cujos governantes priorizam a educação são certamente privilegiados. E pessoas que têm amigos também. De um deles, o teósofo Raul Branco, recebi o texto abaixo, de 14 séculos atrás. Apesar de tão antigo, traz em sua narrativa uma certeza contemporânea: se a sociedade enfatizasse o Ser em sua prática educativa - em lugar do intelecto e da competitividade - haveria drástica redução dos gastos públicos com segurança, controle de drogas, saúde e outros tantos aspectos onde o desregramento impera. A partir dos lares, tais conflitos iriam se minimizar. As guerras provavelmente cessariam. Segue-se a história:

"No século VII a.C. viveu em Esparta um legislador chamado Licurgo. Conta-se que Licurgo foi convidado a proferir uma palestra a respeito da educação. Aceitou o convite e pediu o prazo de seis meses para se preparar. Esse pedido causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema.

Passados os seis meses, Licurgo compareceu perante o povo em expectativa. Postou-se à tribuna e logo em seguida entraram dois criados, cada qual portando duas gaiolas. Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães. A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e a pequena lebre, branca, saiu a correr espantada. Logo em seguida o outro criado abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu na correria atrás da lebre. Alcançou-a com destreza e a matou rapidamente.

A cena chocou a todos. Um grande silêncio tomou conta da assembléia e os corações pareciam saltar do peito. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. Licurgo nada falou.

Tornou a repetir o sinal e a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão. O povo mal continha a respiração. Alguns, mais sensíveis, levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo palco. No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de mordê-la, bateu-lhe com a pata e ela caiu. Logo a lebre ergueu-se e se pôs a brincar com o cão. Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar tranqüila convivência, saltitando de um lado a outro do palco. Então, Licurgo tomou a palavra:

- Povo de Esparta. O que acabais de assistir é uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim, igualmente, os cães. A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, a educação que lhes dei - E prosseguiu vivamente o seu discurso, dizendo das excelências do processo educativo:

- A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Eduquemos nossos filhos, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos aos seus corações, ensinemos a eles a se despojarem de suas imperfeições. Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores. Percebe-se, portanto, que a educação não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim em se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que floresçam".

Aí, perguntamos: Que projeto educacional poderia "trabalhar as potencialidades interiores do ser"? Que tipo de educação nos lares poderia gerar melhor convivência entre nós, com os demais reinos de vida e com o planeta - este que, de tão vilipendiado, parece caminhar irremediavelmente para o colapso, levando junto a raça humana?

Walter da Silva Barbosa é professor, economista, membro do Conselho Nacional da Sociedade Teosófica e diretor da Associação Educacional Annie Besant, em Campo Grande - MS

* TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE DO INSTITUTO NINA ROSA
NA WEB: http://www.institutoninarosa.org.br

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