terça-feira, 25 de janeiro de 2011

TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA

 Laydinha

Por Anna Karla Fontes *

Minha caçula é Leida e a primogênita é Deusinha (Deusoca, Deusamaria ou Gostosidademaria). Sem leida+deusa não consigo nem imaginar como seriam os dias. Desejo muito que num futuro bem próximo algum cientista confirme que os bichanos e os animais em geral entendem a linguagem dos humanos. Só assim o meu carinho já traduzido em cuidados no dia-a-dia chegaria aos seus ouvidos e deusa+leida saberiam exatamente o tamanho do meu amor por elas.
 
A história das duas é parecida: não sei se eu atravessei o seu caminho ou elas o meu. Deusinha encontrei em 2006, exatamente um mês depois do meu aniversário. Um maravilhoso presente fora de época. Deveria ter pouco mais de um mês de vida e dormia perigosamente na porta de uma garagem de um grande prédio residencial. A passagem de qualquer veículo ali poderia ser fatal para aquele minúsculo pontinho branco, por mais atento que fosse o motorista. 

Deusinha

Eu estava de luto há dois anos pela perda de Laurinha (muito parecida fisicamente com Deusa) e mais uma vez tinha dito que jamais voltaria a adotar um bichinho. Mas não resisti. E todos os amantes dos animais sabem do que estou falando: essa promessa parece que existe para ser quebrada. Imediatamente a levei para o pediatra, ops, para o veterinário predileto, o Dr. Nirlei, da clínica Animale. Deusoca precisava de cuidados urgentes: sofria com pulgas, verminoses e conjuntivite e depois de uma pequena estadia na clínica, chegou bem mais animadinha em casa.
 
Hoje, com quatro anos e meio de convivência, sou cada dia mais apaixonada por ela: é alegre e calma ao mesmo tempo; brincalhona, presente e carinhosa. Enfim, uma grande filha e companheira. Mas uma decisão minha também contribuiu para dias mais calmos: ao contrário de Laurinha, que foi embora de casa num dos cios, Deusa foi castrada.
 
Leida tem uma historinha infelizmente mais dramática e comum em Natal. Na milésima tentativa de me disciplinar numa atividade física, caminhava pelas ruas do bairro quando me deparei com uma cena de cortar coração: seus três filhotinhos, ainda de olhos fechados de tão novinhos, miavam tão alto de fome e medo, que mais pareciam berros. 

 Laydinha

Eles corriam de um lado pro outro da calçada, rodando a esmo, procurando a mãe, comida e muitos passantes se comoviam com a situação, mas tinham que seguir o seu caminho: o estudante apressado, o trabalhador atrasado, a dona de casa levando as crianças na escola...enfim.
 
Enquanto os pequenos berravam, Leida se amedrontava embaixo do carro e seu olhar implorava ajuda para si e pros seus. Ela estava numa péssima situação: atropelada e sua patinha quebrada e sangrando. Não tive tempo para pensar: em minutos consegui uma caixinha de transporte e os trouxe para casa.
Para não estressar nenhum de nós moradores, criei dois ambientes na minha casa: um para Deusa, da cozinha para fora e outro para os novos inquilinos, que ficaram com o banheiro reserva, enquanto eu ganhava tempo para pensar o que fazer com a minha nova grande família. Vermifuguei-os, tratei da conjuntivite e em poucos dias Leida, assim por mim batizada, já tinha outra aparência e um ar de quem estava completamente tranqüila com o futuro da sua família.
Deusinha

Esperei um mês até o desmame dos filhotes e enquanto isso agi loucamente pelo Orkut e Messenger numa campanha de adoção, que teve resultados na vida real. Socorro, que faz jus ao nome e é uma das minhas melhores amigas, conseguiu um lar para todos. Vibrei porque dessa forma Richelme, Roxelinha e Roxaninha iriam ficar juntos e poderiam continuar suas brincadeiras e camaradagem que tanto divertiram a mim e a alguns bons amigos. 
 
Faltava resolver a situação de Leida, que após se separar dos filhos, descobri ser tão criança quanto eles. Uma mãe super precoce que agora, sem a responsa de cuidar da prole, estava curtindo adoidado a sua nova morada. Jamais vou esquecer a alegria com que subiu e rolou no sofá e, até hoje, a brincadeira de esconde-esconde na hora de trocar os lençóis da cama.
 
Eu hesitava em ficar com ela por medo da convivência com Deusoca, bem mais dócil e mansa, enquanto Leida trazia os traumas e a agressividade de quem passou a vida toda na guerra pela sobrevivência da rua. Enquanto eu buscava pais adotivos, fui cogitando a idéia de uma irmã caçula pra Deusa. A campanha deu resultado zero, talvez pela sua condição física e por já ser adulta. Não sei. O fato é que alguém perdeu a chance de ter ao seu lado uma gatinha alegre e cheia de amor pra dar. E com isso eu e Deusoca fomos presenteadas com uma ótima companheira de viagem.

* Anna Karla Fontes é jornalista e "mãe" de Deusinha e Leida.

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6 comentários:

  1. Como seria legal que Anna Karla fosse a regra, e não a exceção. A luta desse blog é justamente tentar mudar isso.

    Obrigado, Anna Karla! Você é um ótimo exemplo de compaixão e amor pelos animais, em especial os gatos, tão injustiçados em nossa sociedade.

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  2. Adorei essa história. Realmente a generosidade de Anna Karla faz toda a diferença. Mas sei que ela é também bastante recompensada com o amor dessas duas lindas gatinhas.

    parabéns à equipe e à depoente.

    Sheyla.

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  3. acompanhei a história da heróica adoção. aninha age como anjo. fico tocado pois adotei uma cachorra que foi responsável pela minha humanização.
    parabéns a todos os angelicais protetores

    muirakytan

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  4. Anna Karlla,
    Adorei a dica do site. E suas palavras sobre sua filhotinha foram lindas. Só quem é "mãe de bichinho" sabe o quanto eles são importantes em nossa vida. Não me vejo sem as minhas meninas, as cadelinhas Vida e Anita.
    Por isso recomendo que aqueles que ainda não têm um animal de estimação experimentem essa doçura que é ter o amor de um animalzinho em casa.
    É o máximo!!!! Não têm preço. Adotem um.
    Alba Paiva - jornalista

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  5. Amei a história de Anna, Deusa e Leida. Linda e cheia de amor. Tenhoa dois gatinhos também encontrados, abandonados, ainda filhotes, aparentemente com 1 semana de nascidos... Hoje, 1 ano depois, me sinto uma maezona, amada e amando.

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  6. Adotar um animalzinho é um grande favor que alguém pode fazer a si mesmo. Peguei um cachorrinho doente e muito maltratado. Não poderia ficar com ele. Então, resolvi cuidar dele até que melhorasse e o encaminharia para adoção. Ele está totalmente recuperado, recuperou-se em poucos dias. Mas, ainda estou cuidando dele. Há 8 anos.

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